terça-feira, agosto 09, 2011

A Ópera já não é só das Classes Dominantes (felizmente)


A ópera é um espectáculo muito apelativo, e até popular, mesmo que sempre tenha sido vendido ao longo dos tempos, de uma forma praticamente exclusiva, à nobreza e alta burguesia, e posteriormente aos senhores que se seguiram, que mesmo sem títulos, não deixaram (nem deixam...) de fazer vida de marqueses, condes ou barões, mesmo os que se disfarçam de democratas e nos pedem sacrifícios.


O meu pai apesar das suas origens populares gostava de ópera, como provavelmente muita gente da sua geração, mesmo que estivessem privados de entrar no "São Carlos" e afins.

Como gostava bastante da cultura espanhola, se estivesse cá, o "Barbeiro de Sevilha" era uma peça a rever, já que também vai passar pelo C.C.C. das Caldas, no dia 9 de Outubro.

8 comentários:

Catarina disse...

Concordo contigo. Mas certos espetáculos ainda deveriam ser mais acessíveis.

Xico disse...

Desde há muitos anos que assisto com alguma frequência a espectáculos de ópera. Quer em S. Carlos, quer em muitos outros locais (não vou mais porque também vivo nas Caldas). É uma ideia preconcebida que a estes locais só acediam ou acedem pessoas da alta. Só a nossa falta de educação cultural pode assumir isso. Sendo provavelmente mais velho ou da mesma idade que o autor deste post, a não ser que o senhor seu pai andasse em adrajos, não vejo onde estivesse privado de entrar em S. Carlos. Se antes de 74 havia "dress code", tinha o coliseu e a trindade, onde tal não havia.
Há muitos anos tinha de correr para entrar a tempo no coliseu para arranjar um bom lugar. Em S. Carlos, basta ir ao primeiro dia de abertura da bilheteira para ver que o público, não sendo popular, está longe de pertencer às elites dominantes.
Quanto ao dress code, jeans e sapatilhas servem perfeitamente (sapatilhas eram proibidas na Green Hill).
Quanto aos preços, sempre me pareceu bastante mais acessível que o futebol, só para dar um exemplo.
E já agora. O barbeiro de Sevilha é uma peça literária francesa, e a ópera é italiana, do Rossini. De espanhol só tem a acção a passar em Sevilha, mas não deve nada à cultura espanhola (que é grande). A Carmen, sendo francesa, tem pelo menos a música "à moda" espanhola, no barbeiro, nem isso.
Quanto à produção anunciada, da Moldávia, esperemos que seja um bom espectáculo. A julgar pelo guarda roupa amexicanado,não augura, por esse lado, nada que se recomende muito.
Aproveite e veja nas Caldas. Mas em Outubro tem, em S. Carlos, uma obra de grande peso. O D. Carlo de Verdi. Não perca, que a produção do S. Carlos tem andado pelas ruas da amargura.

Laura disse...

Concordo contigo, Luís, a ópera, o bailado,a música clássica, foram sempre privilégio de um estracto social, que muitas vezes nem sabia apreciar estes espectáculos. Aparecia porque parecia bem socialmente.

Mesmo assim ainda existem muitas barreiras a derrubar, mas para isso as televisões tinham de mudar, deixar de alimentar o nosso pior "folclore".

beijinho

Luis Eme disse...

também concordo contigo, Catarina.

Luis Eme disse...

Xico, obrigado pela lição de cultura.

Luis Eme disse...

ainda hoje é assim, Laura.

há espectáculos mais "finos" que outros...

Xico disse...

Luis Eme
Longe de mim dar lições de cultura seja a quem for e muito menos a si.
Limitei-me a ressaltar algo que vi muito entranhado em pessoas que conheço, que a cultura é só para alguns mercê do custo da mesma.
Falo assim, porque vi espectáculos numa associação recreativa de bairro popular das Caldas, grátis, com agrupamentos de renome mundial e que só actuam nos melhores teatros do mundo (os swingle singers por ex.), às moscas, porque as pessoas das Caldas não atravessam a ponte para irem ao bairro que é o seu.
O S. Carlos teve homens como Serras Formigal, João Paes e Freitas Branco que tanto fizeram para levar a cultura musical às camadas mais desfavorecidas da população.
Por isso é que pretendi desmistificar essa ideia do S. Carlos, que chegou a ter uma companhia que percorria a província portuguesa com ópera a que eu podia aceder com a mísera mesada de estudante, nessa mesma província portuguesa, e onde vi o "povo da província" chorar ouvindo Elizete Bayan cantar a ária da loucura da Lucia di Lammermoor, toda cantada só com cantores portugueses. E que bem cantavam. Era o ano de 1977.

Luis Eme disse...

eu falei sem ironia, Xico.

estou grato pelos seus testemunhos.